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21 de jul. de 2015

Números impressionam: A importância do professor na vida de um aluno

Números nunca foram a paixão do piauiense Antônio Cardoso do Amaral, de 34 anos. Na escola, seu coração batia mais forte por ciências e língua portuguesa. 

Mas, no raciocínio lógico, ele sempre foi craque. Tanto que, na hora de decidir que carreira seguir, deixou de lado o coração e se valeu de uma fórmula simples: mais demanda = mais oportunidades de trabalho. 

E foi assim que o jovem foi estudar matemática. Antes mesmo de se formar, já dava aulas. O resultado? Bem, Cocal dos Alves, um lugarejo de cerca de seis mil habitantes, no sertão do Piauí, é a prova real de que, às vezes, o amor demora a acontecer. 

Mas quando acontece... a cidade acumula 172 premiações na OBMEP. São 101 menções honrosas, 44 medalhas de bronze, 13 medalhas de prata, 14 de medalhas de ouro, conquistadas por 87 alunos. Um resultado impressionante para um município cujo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é um dos 50 mais baixos do país e onde cerca de 95% da população vivem do Bolsa-Família.

- Estamos ganhando essa luta com exemplos. Hoje, todos os alunos de Cocal dos Alves que fazem o Enem passam para a Universidade Federal do Piauí. Todos, sem exceção. Tenho jovens cursando medicina, engenharia, nutrição, matemática. Alguns estão no Ciência sem Fronteiras. Sem a OBMEP, isso seria impensável – afirma Antônio, professor da Unidade Escolar Augustinho Brandão.

A própria trajetória do professor beira o impensável. Os pais são analfabetos. Ou quase. “Minha mãe lê um pouquinho”, diz ele. A família morava na zona rural, quando Cocal dos Alves ainda era distrito de Cocal. Escola, só até a 4ª série do Ensino Fundamental e, mesmo assim, em turmas multisseriadas. Chegar ao Ensino Médio seria um “esforço gigantesco”. Mas o pai arrumou um emprego numa serralheria e, ajeitando daqui e dali, Antônio foi estudar num colégio filantrópico. Quem podia pagava a taxa de manutenção. E o menino conseguiu se formar e sonhar com a universidade. Na Parnaíba, onde ficava o campus mais próximo da Federal, as opções eram pedagogia, matemática e educação física.

- Escolhi matemática porque sabia que havia carência de professores. Mas entrei na universidade sem base alguma – conta Antônio.

Embora dar aulas não fosse seu objetivo, Antônio enxergou a oportunidade. Formado e de volta à Cocal dos Alves, descobriu a OBMEP. Ali, finalmente, encontrava uma razão para mudar a sua vida e a de seus alunos.

- A OBMEP salvou a minha vida como professor. Sem ela, eu teria desistido da sala de aula. Não conseguia entender como um aluno é diferente do outro e fazia uma cobrança excessiva, sem contrapartida alguma para os estudantes – admite o professor. – Com a olimpíada, percebi como a matemática é bonita, bem feita. Ali, realmente, eu me encantei com a disciplina. Talvez, já tivesse algum jeito para os números na infância, mas faltou incentivo.

Na época, Antônio cogitou prestar concurso público para algum banco e fazer carreira em um caixa ou escritório. Agora, do outro lado do balcão, o professor se esmera em estimular a garotada. Ele gosta de trabalhar com os “bem novinhos”, ou seja, os do 6º ano do Ensino Fundamental, para despertar o interesse pela matéria desde cedo. E sem grandes arroubos. Antônio faz questão de dizer que não inventa a roda em sala de aula: apenas mostra a importância que a disciplina tem no cotidiano – e como ela pode ser transformadora na vida de um jovem.

- Não tem segredo, nem técnica de ensino mirabolante. As crianças entendem que, se querem ter um futuro diferente, só têm uma possibilidade: estudar.

E não só matemática. Os alunos da escola fazem todas as olimpíadas que aparecem pela frente, sempre com bons resultados. Foi da Augustinho Brandão que saiu Izael Francisco de Araújo, campeão do “Soletrando”, o quadro do programa “Caldeirão do Huck”, em 2011. Hoje, o rapaz estuda medicina na Universidade Estadual do Piauí.

- Hoje, os alunos de Cocal dos Alves fazem olimpíada de química, de física, de robótica, de português, do que aparece. A disciplina para estudar matemática se reflete no ensino como um todo. Nossos resultados na Prova Brasil são surpreendentes – orgulha-se o professor.

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